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lunes, agosto 05, 2024

Cálice



Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue


Pai, afasta de mim esse cálice, pai
Afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue


Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta


De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta


Pai (pai)
Afasta de mim esse cálice (pai)
Afasta de mim esse cálice (pai)
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue


Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado


Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa


Pai (pai)
Afasta de mim esse cálice (pai)
Afasta de mim esse cálice (pai)
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue


De muito gorda a porca já não anda (cálice)
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai (pai), abrir a porta (cálice)
Essa palavra presa na garganta


Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade


Pai (pai)
Afasta de mim esse cálice (pai)
Afasta de mim esse cálice (pai)
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue


Talvez o mundo não seja pequeno (cálice)
Nem seja a vida um fato consumado (cálice, cálice)
Quero inventar o meu próprio pecado
(Cálice, cálice, cálice)
Quero morrer do meu próprio veneno
(Pai, cálice, cálice, cálice)


Quero perder de vez tua cabeça (cálice)
Minha cabeça perder teu juízo (cálice)
Quero cheirar fumaça de óleo diesel (cálice)
Me embriagar até que alguém me esqueça (cálice)


















Chico Buarque, Gilberto Gil








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Cálice na voz de Chico Buarque e Milton Nascimiento:


Cálice




domingo, julio 07, 2024

Causa e Efeito





Pouca coisa mudou
O responsável pela nossa tragédia não assimilou
Que pra mudar é necessário mais que um discurso
no percurso falei com gente estúpida
Penso no que diz nossa bandeira fica em dúvida
O que será que eles acham de nós
que não sabemos falar?
que não sabemos votar? Há


Nossa voz ta no ar
Por mais que eu tenha espírito de mudança
vejo contradições que me causam desesperança
Cansa ver tanta gente ignorante
Tratando gente humilde de forma arrogante
Deselegante ao lidar com a maioria
Que fala com sotaque de periferia
Na correria, sobrevivendo a covardia
Daqueles que nos retribui com antipatia


A superação me emociona
Mas a apatia dos irmãos me decepciona
Vivemos da democracia que não funciona
Condição social que aprisiona
Vários vão a lona
Sentados na poltrona
Recebendo ordens que serão ditadas na telona
E nos deixam como herança
Uma verdadeira erupção de criança na minha lembrança
Não da pra esquecer o que eu vi (na lembrança)
Não da pra esquecer o que senti
percebi


Que a policia continua sendo o braço governamental
Na favela dissemina o mal
Com suas fardas e caveirões
A serviço daqueles que controlam opiniões, que roubam
milhões, donos de mansões
Constrói a riqueza com a fraqueza de multidões
Tubarões
engolem o peixe pequeno
Não vejo plantação de coca no nosso terreno
Vai além...vejo plantações de vida
de sonhos, de morte, ferida
Que não cicatriza, que não ameniza
Se o clima tiver tenso a paz não se estabiliza
Pra mim é muito fácil de ser entendido
Sem educação vários de nós vai virar bandido
E a nossa pena não é branda
Perdemos a infância, a juventude a fila anda
Menos pra quem tem família com dinheiro
Que paga pelo erro do filho o tempo inteiro
Atitudes que eu não me identifico
Bateram na empregada só porque o pai é rico
Pai que vai a público falar de ética
Sem saber que o filho é envolvido com droga sintética
Vida frenética, fazendo merda pela rua
Com a certeza que a justiça é menos energética
Não é assim com a gente
Nova operação policial leva a alma de um inocente
Deixa a criança ferida
Com bala perdida
Mais punição como medida
Revelando a incompetência
Tenho complemento no refrão que há na sequencia


Combatente não aceita
Comando de canalha que a nós não respeita
Excluído, iludido
Quem nasce na favela é visto como bandido
Rouba muito, magnata
Não vai para cadeia e usa terno e gravata
Causa e efeito
Só dever sem direito


Combatente não aceita
Comando de canalha que a nós não respeita
Excluído, iludido
Quem nasce na favela é visto como bandido
Rouba muito, magnata
Não vai para cadeia e usa terno e gravata
Causa e efeito
Só dever sem direito


A corrupção permite
que atrocidade ultrapasse seu limite
Por mais que parte elite evite
Um afrogenocidio existe
onde pessoas morrem por conta da cor
Com sobrenome comum não temos valor
Artista câo, que fala de amor
Não fecha com nois nem na hora da dor
Por isso eu faço do meu palco um pupito
usando minha voz contra um Brasil que é corrupto
Impunidade fala mais alto
Os homens de preto sobem o morro pra defender o asfalto
que impotente, assistem a tragédia
No desnivel entre a favela e a classe média
Que tratam o guetto como se fosse a África
numa distancia que nem chega a ser geográfica


Distanciamento provocado pelo preconceito
Como se nascer aqui fosse um defeito
Não é!
É parte de um destino que você ajudou a escrever
quando não quis se envolver
Vem, vem aqui combater a consequencia de politica de ausencia
que resulta em violencia
Se o foco não for mudado, não terão resultado
e o ódio na juventude é uma tendencia
Sem escola, sem escolha
Expectativa de vida até que o crime te recolha
Vários do lado do bem, são empurrados pro mal
vitimas da convulsão social
País tropical, povo sensual
Fábrica de gente em condição marginal
que não conseguem pensar, que não conseguem falar
Parasitas não irão prosperar


Combatente não aceita
Comando de canalha que a nós não respeita
Excluído, iludido
Quem nasce na favela é visto como bandido
Rouba muito, magnata
Não vai para cadeia e usa terno e gravata
Causa e efeito
Só dever sem direito


Combatente não aceita
Comando de canalha que a nós não respeita
Excluído, iludido
Quem nasce na favela é visto como bandido
Rouba muito, magnata
Não vai para cadeia e usa terno e gravata
Causa e efeito
Só dever sem direito














MV Bill





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martes, mayo 30, 2023

Soneto Do Teu Corpo



Juro beijar teu corpo sem descanso
Como quem sai sem rumo pra viagem
Vou te cruzar sem mapa nem bagagem
Quero inventar a estrada enquanto avanço


Beijo teus pés
Me perco entre teus dedos
Luzes ao norte
Pernas são estradas
Onde meus lábios correm a madrugada
Pra de manhã chegar aos teus desejos


Como em teus bosques
Bebo nos teus rios
Entre teus montes
Vales escondidos
Faço fogueira
Choro, canto e danço


Línguas de Lua
Varrem tua nuca
Línguas de Sol
Percorrem tuas ruas


Eu juro beijar teu corpo
Juro beijar teu corpo
Juro beijar teu corpo
Sem descanso


Ah, eu juro
Ah, eu juro
Ah, eu Juro
Ah, eu Juro


Beijo teus pés
Me perco entre teus dedos
Luzes ao norte
Pernas são estradas
Onde meus lábios correm a madrugada
Pra de manhã chegar aos teus desejos


Como em teus bosques
Bebo nos teus rios
Entre teus montes
Vales escondidos
Faço fogueira
Choro, canto e danço


Línguas de Lua
Varrem tua nuca
Línguas de Sol
Percorrem tuas ruas


Eu juro beijar teu corpo
Juro beijar teu corpo
Juro beijar teu corpo
Sem descanso...


Ah, eu juro
Ah, eu juro
Ah, eu Juro
Ah, eu Juro


Eu Juro
Juro beijar
Juro beijar
Juro beijar
Juro beijar
Juro beijar
Juro beijar
Juro beijar
Eu juro beijar









Womanscape by Jeanne Simmons.










Paulinho Moska





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Soneto Do Teu Corpo interpretado por Paulinho Moska:


Soneto Do Teu Corpo



domingo, abril 23, 2023

Admiração



Meus olhos, famintos, não se cansam
De te acariciar
Procuram sempre um novo ângulo
Pra te admirar
E sonham mergulhar na sua boca de vulcão
Provar todo o calor que há na sua erupção


Escorregar nos rios claros
Das margens dos teus pelos
E encontrar o ouro escondido
Que brilha em seus cabelos
Devorar a fruta que te emprestou o cheiro
E talvez desfrutar de um amor puro e verdadeiro


Esquecer o espaço, o tempo e o viver
Perder a noção do que é ter a noção do perder
Se um dia eu fui alegria ao te conhecer
Agora canto porque sinto a dor de não te ter





















Paulinho Moska




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Admiração interpretada por Paulinho Moska:

Admiração



lunes, abril 10, 2023

Esperanças Perdidas



Quantas belezas deixadas nos cantos da vida
Que ninguém quer e nem mesmo procura encontrar
E quantos sonhos se tornam esperanças perdidas
Que alguém deixou morrer sem nem mesmo tentar


Minha beleza encontro no samba que faço
Minha tristeza se torna um alegre cantar
É que carrego o samba bem dentro do peito
Sem a cadência do samba não posso ficar


Não posso ficar, eu juro que não
Não posso ficar, eu tenho razão
Já fui batizado na roda de bamba
O samba é a corda, eu sou a caçamba


Não posso ficar, eu juro que não
Não posso ficar, eu tenho razão
Já fui batizado na roda de bamba
O samba é a corda, eu sou a caçamba


Quantas noites de tristeza ele me consola
Tenho como testemunha a minha viola
Ai! Se me faltar o samba não sei o que será
Sem a cadência do samba não posso ficar


Não posso ficar, eu juro que não
Não posso ficar, eu tenho razão
Já fui batizado na roda de bamba
O samba é a corda, eu sou a caçamba


Não posso ficar, eu juro que não
Não posso ficar, eu tenho razão
Já fui batizado na roda de bamba
O samba é a corda, eu sou a caçamba


Quantas belezas deixadas nos cantos da vida
Que ninguém quer e nem mesmo procura encontrar
E quantos sonhos se tornam esperanças perdidas
Que alguém deixou morrer sem nem mesmo tentar


Minha beleza encontro no samba que faço
Minha tristeza se torna um alegre cantar
É que carrego o samba bem dentro do peito
Sem a cadência do samba não posso ficar


Não posso ficar, eu juro que não
Não posso ficar, eu tenho razão
Já fui batizado na roda de bamba
O samba é a corda, eu sou a caçamba










Fotografía de Laura Barth











Delcio Carvalho





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Esperanças Perdidas de Os Originais do Samba:

Esperanças Perdidas


lunes, abril 03, 2023

Aqui, que é o fundo



Aqui, que é o fundo
Do fim do mundo,
Livre do tudo
de ter que ser,
Poderei, mudo
De mim, esquecer.


Sob o ermo e quedo
Grande arvoredo,
Dormindo experto,
Verei passar,
De mim liberto,
Meu sonho no ar.


Elle é diverso
Do ser disperso
Com que, distincto
De mim, sonhei.
Não penso; siento.
Ignoro: sei.





















Fernando Pessoa



miércoles, septiembre 08, 2021

Tatuagem



O meu único fracasso
Está na tatuagem do meu braço


É feliz quem já viveu aflito
E hoje tem a vida sossegada
Muita gente tem o corpo tão bonito
Mas tem a alma toda tatuada





















Guilherme de Brito / Nelson Cavaquinho








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link para tatuagem na voz de Paulo Cesar Pinheiro:



jueves, julio 22, 2021

Vamos Con Fe



Las rimas salen solas
Sale el sol, llegan las olas
Las rimas salen solas
Sale el sol, llegan


Dormimos sobre pasto
Dormimos sobre paja
Aquí, las manos se sudan,
la vida se trabaja


Somos tercermundistas
Seamos realistas
No hay sitio pa' clasismo
No hay tiempo pa' racistas


Tenemos lo que pocos en el mundo entenderían
Sentido del humor que se hereda de familia
Somos bastante' y nos juntamo' en la cocina
Si hay algo que sabemos es de chacota y comida


En nuestra historia hay una herida de conquista
Por eso en nuestras calles tantos huecos en la pista
Aquí la gente se cae y luego se ríe
Aquí los perros ladran porque ellos también son libres


Y vamos bien, no vamos a parar
La luz que nos alumbra nunca se va a apagar
Vamos con fe, remando hasta el final
La luz que nos alumbra nunca se va a apagar
Ven, tú también, no vamos a parar
La luz que nos alumbra nunca se va a apagar
Vamos con fe, remando hasta el final
La luz que nos alumbra allá


Agora eu começo pra você, começo a relatar
Deixo passar o tempo desapercebido
Porque eu tinha algo que falar
Logicamente bem consciente
Muitas vezes a gente pensa que é demente
Mas eu só continuo avançando
Porque eu sou um ser humano procedente
Consequente com tudo isso foi conhecer
E depois ter colar e trincar
Representar com a rima, gravar e depois mostrar
Que a gente até poderia criar
Uma nova ideologia de repente, tendência não é comédia
Nada de aparência
Porque por mais que eu seja escurinho
Pra você eu brindo toda transparência
Qual é a clarência de tudo isso?
Qual seria o sentido de não falar?
Ter guardado na minha garganta
Nós somos do Brasil mas estamos no Peru para mesclar
Mostrar e falar que a música
É reta bela e eu falo assim
Falando do meu país pra todo mundo, pra quem quiser, logicamente ouvir


Ven, tú también, no vamos a parar
La luz que nos alumbra nunca se va a apagar
Ven, tú también, remando hasta el final
La luz que nos alumbra nunca se va a apagar
Vamos con fe, buscando la verdad
La luz que nos alumbra nunca se va a apagar
Vamos con fe, remando hasta el final
La luz que nos alumbra, alumbra de verdad


No importan las naciones
No importan las fronteras
Distintas las banderas
Pero es la misma tierra
Mirando hacia las luces
que aumentan las respuestas
Dejando el ego a un lado
La voluntad aumenta


La misma sangre
Las mismas penas
El mismo hambre
La misma espera
Son gobernantes
Son marionetas
Las corporaciones, oye, los manejan
Estos excesos
Todo este ruido
Estas necesidades y todos estos líos
No son nuestra esencia
Esto no estaba escrito
No lleves carga ajena
Mantén tu cuerpo erguido


Aqui é Mercosul e nego continua
Logicamente suando
Fazendo música para estar crescendo espiritualmente
E também brindando uma experiência musical
Uma experiência que veio do outro lado é normal
Porque se você não assimila você seria totalmente anormal
Inusual seria você ver colar e poder também desfrutar
Da música que o Mc Bomgo está fazendo com laguna pai
Essa é toda verdade
Português ou espanhol o idioma é somente, totalmente, um detalhe
Porque você já está careca de saber
Que se não for real vagabundo assim não vale























Laguna Pai / MC Bomgo





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Enlace a 
Vamos Con Fe:

Vamos Con Fe










viernes, mayo 31, 2019

Coração Vagabundo


Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer

Meu coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meus sonhos
Sem dizer adeus
E fez dos olhos meus
Um chorar mais sem fim

Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim

















Caetano Veloso




Link para a canção em português (YouTube)

Coração Vagabundo


lunes, mayo 27, 2019

Não Sonho Mais


Hoje eu sonhei contigo
Tanta desdita, amor
Nem te digo
Tanto castigo
Que eu tava aflita de te contar

Foi um sonho medonho
Desses que às vezes a gente sonha
E baba na fronha
E se urina toda

E quer sufocar
Meu amor
Vi chegando um trem de candango
Formando um bando
Mas que era um bando de orangotango
Pra te pegar
Vinha nego humilhado
Vinha morto-vivo
Vinha flagelado
De tudo que é lado

Vinha um bom motivo
Pra te esfolar
Quanto mais tu corria
Mais tu ficava
Mais atolava
Mais te sujava
Amor, tu fedia

Empestava o ar
Tu, que foi tão valente
Chorou pra gente
Pediu piedade
Olha que maldade
Me deu vontade

De gargalhar
Ao pé da ribanceira
Acabou-se a liça
E escarrei-te inteira
A tua carniça

E tinha justiça
Nesse escarrar
Te rasgamo a carcaça
Descemo a ripa

Viramo as tripa
Comemo os ovo
Ai, e aquele povo
Pôs-se a cantar
Foi um sonho medonho
Desses que às vezes a gente sonha
E baba na fronha
E se urina toda

E já não tem paz
Pois eu sonhei contigo
E caí da cama
Ai, amor, não briga
Ai, não me castiga
Ai, diz que me ama
E eu não sonho mais





  


                     








Chico Buarque



Link da canção em YouTube:



miércoles, marzo 07, 2018

Toque De São Bento Grande De Angola


Nesse mundo camará
Mas não há mas não há
Mas não há quem me mande
Eu só sei obedecer
Se mandar
Se mandar são bento grande


É de angola é de angola é de angola
De angola de angola de angola

Meu avô já foi escravo
Mas viveu com valentia
Descumpria a ordem dada
Agitava a escravaria
Vergalhão, corrente, tronco
Era quase todo dia
Quanto mais ele apanhava
Menos ele obedecia


É de angola é de angola é de angola
De angola de angola de angola

Nesse mundo camará
Mas não há mas não há
Mas não há quem me mande
Eu só sei obedecer
Se mandar
Se mandar são bento grande

Quando eu era ainda menino
O meu pai me disse um dia
A balança da justiça
Nunca pesa o que devia
Não me curvo a lei dos homens
A razão é quem me guia
Nem que seu avo mandasse
Eu não obedeceria


É de angola é de angola é de angola
De angola de angola de angola

Nesse mundo camará
Mas não há mas não há
Mas não há quem me mande
Eu só sei obedecer
Se mandar
Se mandar são bento grande

Esse mundo não tem dono
E quem me ensinou sabia
Se tivesse dono o mundo
Nele o dono moraria
Como é mundo sem dono
Não aceito hierarquia
Eu não mando nesse mundo
Nem no meu vai ter chefia


É de angola é de angola é de angola
De angola de angola de angola

Nesse mundo camará
Mas não há mas não há
Mas não há quem me mande
Eu só sei obedecer
Se mandar
Se mandar são bento grande







Paulo Cesar Pinheiro


Sublime Paixão


Paixão
É o delírio de quem se entrega
É rebentação que carrega
É a raiz de onde brota a loucura
Paixão
É luz negra que ofusca e cega
É mar que se teme e se navega
É ânsia sublime de aventura
Paixão
É o abismo de quem se apega
É a bendita flor que o mal rega
É o reverso que tem toda jura
Paixão
É a surpresa que a gente não nega
É o destino de quem não sossega
É o mistério entre a espera e a procura
Paixão
Estranha doutrina de fé que não se prega
Estranho prazer imortal imortal que nunca dura
Paixão
É um trem que entristece e que alegra
Momento em que o amor quebra a regra
No coração de toda criatura.








Paulo Cesar Pinheiro



lunes, febrero 26, 2018

Cotidiano

(Português)


Todo dia ela faz tudo sempre igual

Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã

Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café 

Todo dia eu só penso em poder parar
Meio-dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida prá levar
E me calo com a boca de feijão

Seis da tarde, como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca prá beijar
E me beija com a boca de paixão

Toda noite ela diz prá eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
Me aperta prá eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor






Chico Buarque


jueves, febrero 15, 2018

Apesar de Você


Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal




A Pesar De Voce & Chico Buarque & Pabellón de Palabras



Chico Buarque



martes, febrero 13, 2018

Apostilla


Aproveitar o tempo!
Mas o que é o tempo, que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha...
O trabalho honesto e superior...
O trabalho à Virgílio, à Milton...
Mas é tão difícil ser honesto ou superior!


É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!
Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos — nem mais nem menos —
Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)...
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões,
E os pensamentos em dominó, igual contra igual,
E a vontade em carambola difícil.
Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos —
Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida.


Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça...
Não ter um acto indefinido nem factício...
Não ter um movimento desconforme com propósitos...
Boas maneiras da alma...
Elegância de persistir...


Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro.
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto.
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?


(Passageira que viajavas tantas vezes no mesmo compartimento comigo
No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegámos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto? Que foi isto a vida?)


Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!...
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisas,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O peão do garoto, que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da terra,
E estremece, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.








Fernando Pessoa por Toni D'Agostinho







Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)


 

sábado, febrero 03, 2018

A arte livra-nos ilusoriamente...



A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos. Enquanto sentimos os males e as injúrias de Hamlet, príncipe da Dinamarca, não sentimos os nossos — vis porque são nossos e vis porque são vis.



O amor, o sono, as drogas e intoxicantes, são formas elementares da arte, ou, antes, de produzir o mesmo efeito que ela. Mas amor, sono, e drogas tem cada um a sua desilusão. O amor farta ou desilude. Do sono desperta-se, e, quando se dormiu, não se viveu. As drogas pagam-se com a ruína de aquele mesmo físico que serviram de estimular. Mas na arte não há desilusão porque a ilusão foi admitida desde o princípio. Da arte não há despertar, porque nela não dormimos, embora sonhássemos. Na arte não há tributo ou multa que paguemos por ter gozado dela.

O prazer que ela nos oferece, como em certo modo não é nosso, não temos nós que pagá-lo ou que arrepender-nos dele.
Por arte entende-se tudo que nos delicia sem que seja nosso — o rasto da passagem, o sorriso dado a outrem, o poente, o poema, o universo objectivo.

Possuir é perder. Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência.






Bernardo Soares (Fernando Pessoa)






A espantosa realidade das coisas...


A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos,
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.










Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)



lunes, diciembre 04, 2017

Canto do Mundo



Pr'esse canto do mundo
De onde é que ele virá
Do meu sonho profundo
Ou do fundo do mar

Com que voz cantará
Com que luz brilhará
Há de vir seja como for

Pr'esse canto do mundo
De onde virá o amor?

Nessa vida vazia
Por que tarda meu bem?
Uma imensa alegria
Que se guarda pra quem?

Seja um anjo do céu
Seja um monstro do mar
Venha num disco voador
Mas que saiba que é meu
No segundo que olhar
Pelo encanto maior

Pr'esse canto do mundo
Quando virá o amor?

O meu amor...
O meu amor...















Caetano Veloso


Protesto Do Olodum


Força e pudor
Liberdade ao povo do Pelô
Mãe que é mãe no parto sente dor
E lá vou eu

Declara a nação,
Pelourinho contra a prostituição
Faz protesto, manifestação
E lá vou eu

Aqui se expandiu
E o terror já domina o brasil
Faz denúncia olodum Pelourinho
E lá vou eu

Brasil liderança
Força e elite da poluição
Em destaque o terror, Cubatão
E lá vou eu

Io io io io io
La la la la la la la
Io io io io io
La la la la la la la
E lá vou eu

Brasil nordestópia
Na bahia existe etiópia
Pro nordeste o país vira as costas
E lá vou eu

Nós somos capazes
Pelourinho a verdade nos trás
Monumento caboclo da paz
E lá vou eu

Io io io io io
La la la la la la la
Io io io io io
La la la la la la la
E lá vou eu

Desmound tutu
Contra o apartaid lá na África do Sul
Vem saudando o Nelson Mandela
O olodum

Io io io io io
La la la la la la la
Io io io io io
La la la la la la la
E lá vou eu

Moçambique, Moçambique, Moçambique
Moçambique, Moçambique, Moçambique









Gilson Menezes dos Santos Dorea (Tatau)